Chacina das Cajazeiras: primeiro acusado de crime com 14 mortes é condenado a 790 anos de prisão
09/05/2025
(Foto: Reprodução) Crime ocorreu em janeiro de 2018 e se tornou a maior chacina do Ceará. Chacina das Cajazeiras: primeiro acusado de crime é condenado
A Justiça condenou Ednardo dos Santos Lima a 790 anos e 4 meses de reclusão por matar 14 pessoas e deixar outra 15 baleadas no crime que ficou conhecido como ''Chacina das Cajazeiras''. O julgamento começou na quinta-feira (8) e terminou na madrugada desta sexta-feira (9), após 15 horas de sessão. A decisão cabe recurso. O episódio de violência se tornou a maior chacina já ocorrida no Ceará, sendo destaque até na imprensa internacional.
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Ednardo foi o primeiro a ser julgado pelo crime que ocorreu em janeiro de 2018, na casa de show "Forró do Gago". Ele é apontado como um dos mandantes da chacina. Ednardo, na data do crime, estava preso por tráfico de drogas desde 2015. Em 2019, foi cumprido um mandado de prisão contra ele pelo novo processo.
Em nota, a defesa do condenado argumentou que "as recentes e intensas guerras de facções ocorridas nesta semana na região podem ter exercido influência indevida sobre a decisão dos jurados que votaram pela condenação. O clima de tensão e insegurança gerado por esses eventos pode ter comprometido a imparcialidade do julgamento, levando a um veredicto baseado no temor em vez de em provas concretas da culpabilidade do acusado". Veja a nota completa da defesa abaixo.
Conforme o Tribunal de Justiça, após analisar os argumentos e materiais apresentados durante o julgamento, o Conselho de Sentença da 2ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, formado por sete jurados, considerou Ednardo culpado pelos crimes de:
homicídio consumado (14 vezes),
tentativa de homicídio (15 vezes), sendo uma delas cometida contra um menor de 14 anos,
além de participação em organização criminosa.
Os trabalhos foram conduzidos pelo juiz Antônio Josimar Almeida Alves, titular da 2ª Vara do Júri de Fortaleza e presidente da sessão.
Confira na íntegra nota da defesa de Ednardo
"A defesa de Ednardo dos Santos Lima informa que interpôs recurso perante o Tribunal de Justiça, requerendo a anulação do julgamento realizado pelo Tribunal do Júri. A medida busca reverter a decisão proferida, considerando que a votação dos jurados se deu por maioria de 4 votos a 3, o que, na visão da defesa, reforça a certeza da inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima na referida chacina.
A defesa ressalta que as recentes e intensas guerras de facções ocorridas nesta semana na região podem ter exercido influência indevida sobre a decisão dos jurados que votaram pela condenação. O clima de tensão e insegurança gerado por esses eventos pode ter comprometido a imparcialidade do julgamento, levando a um veredicto baseado no temor em vez de em provas concretas da culpabilidade do acusado.
A defesa sustenta que o resultado apertado da votação, somado ao contexto de violência e instabilidade, corrobora a convicção da defesa na inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima, uma vez que a prova apresentada não foi capaz de superar a presunção de inocência e gerar a certeza necessária para uma condenação unânime.
O recurso apresentado ao Tribunal de Justiça detalha os fundamentos jurídicos para a anulação do júri, buscando demonstrar a fragilidade das evidências apresentadas e a potencial influência externa decorrente do cenário de violência, que pode ter afetado a livre convicção dos jurados, levando a uma decisão equivocada sobre a participação do Sr. Ednardo dos Santos Lima.
A defesa confia no Poder Judiciário para que a matéria seja devidamente analisada, considerando o delicado contexto em que o julgamento ocorreu, e que a justiça, com o reconhecimento da inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima, seja restabelecida."
Chefe de grupo criminoso
1° acusado de participar da chacina do Forró do Gago é condenado a 790 anos de prisão
Na denúncia do Ministério Público do Ceará, Ednardo é apontado como uma das lideranças da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) e um dos mandantes da chacina. Como chefe do grupo, ele teria concordado com a execução e ordenado o crime.
A chacina ocorreu mediante uma disputa de territórios entre a facção criminosa de Ednardo e o Comando Vermelho.
A ideia, conforme a investigação, era promover um ataque massivo a um local "emblemático" do grupo rival, no caso, o Forró do Gago, e dominar o bairro Cajazeiras, onde ficava o clube e onde aconteceu a matança.
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SVM
Ao todo, 15 pessoas foram denunciadas por participação na chacina. Destes, oito foram pronunciados, isto é, a Justiça decidiu submetê-los ao julgamento pelo Tribunal do Júri - que analisa crimes contra a vida.
Dos sete denunciados restantes, um morreu e seis foram impronunciados - decisão que considera que não há indícios suficientes para levar o suspeito ao Tribunal do Júri, o que não significa, contudo, que a pessoa foi absolvida.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), o processo da Chacina das Cajazeiras possui mais de seis mil páginas e é considerado de alta complexidade. Para dar celeridade aos julgamentos, o caso foi desmembrado em outros processos, o que possibilitou antecipar o julgamento de alguns envolvidos, como Ednardo.
Além dele, os outros réus pronunciados devem ser levados a júri popular, depois do julgamento dos recursos apresentados pela defesa. Ainda não há, porém, prazo para isso acontecer.
Crime
Chacina das Cajazeiras completa quatro anos; 14 pessoas foram mortas
Na madrugada do dia 27 de janeiro de 2018 membros de uma facção criminosa invadiram o "Forró do Gago" e dispararam contra pessoas que se divertiam ou trabalhavam no local. Ao todo, foram 14 mortos, sendo 12 adultos e 2 adolescentes, e outras 15 pessoas baleadas na ação.
O ataque foi motivado pela localização do Forró do Gago, que ficava no bairro Cajazeiras, então ocupada pelo Comando Vermelho. A facção que encomendou o ataque, a GDE, queria tomar o território para traficar drogas, segundo a investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Inicialmente, o ataque iria ocorrer em outra casa de show no bairro Messejana, também em Fortaleza, mas foi transferido para o Forró do Gago por ser considerado um local mais vulnerável.
Na época, o delegado titular do 13º Distrito Policial, Hélio Marques, afirmou que todos os mortos "estavam no local errado e na hora errada", pois os tiros foram disparados a ermo, sem que os homicidas se importassem quem seria alvejado.
Confira a identificação dos 14 mortos na 'Chacina das Cajazeiras':
Casa de show foi fechada após chacina em Fortaleza
Thiago Gadelha/Sistema Verdes Mares
Maíra Santos da Silva, 15 anos
José Jefferson de Souza Ferreira, 21 anos
Raquel Martins Neves, 22 anos
Luana Ramos Silva, 22 anos
Wesley Brendo Santos Nascimento, 24 anos
Natanael Abreu da Silva, 25 anos
Antônio Gilson Ribeiro Xavier, 31 anos
Renata Nunes de Sousa, 32 anos
Mariza Mara Nascimento da Silva, 37 anos
Raimundo da Cunha Dias, 48 anos
Antônio José Dias de Oliveira, 55 anos
Maria Tatiana da Costa Ferreira, 17 anos
Brenda Oliveira de Menezes, 19 anos
Edneusa Pereira de Albuquerque, 38 anos
Os principais chefes da facção criminosa que comandou os ataques foram presos e denunciados por estes homicídios ainda em 2018.
Em julho de 2021, a 2ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza confirmou o recebimento de denúncia contra 13 suspeitos de serem os autores chacina, antes disso, um dos mandantes já havia sido denunciado e no decorrer do processo um outro suspeito teve a ação extinta pela Justiça após falecer por complicações de saúde em 2019.
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